terça-feira, 4 de outubro de 2016

O que sabemos sobre os erros?

Boa tarde a todos!
Vou começar a postagem de hoje com uma história que vivenciei.

Fui chamado para substituir uma professora da disciplina de Matemática do 8º ano do Ensino Fundamental de uma escola pública.
No primeiro contato com os alunos, resolvi fazer uma revisão do conteúdo que eles estavam trabalhando.
Eles me informaram que o conteúdo era "simplificação de frações algébricas".
Coloquei no quadro a seguinte fração algébrica para a turma simplificar:


A resposta foi unânime:


Eu perguntei se a resposta que eles tinham apresentado estava correta e todos me disseram que sim.
Eu argumentei que o cálculo estava incorreto e que a resposta correta era:


Eles insistiram que poderiam eliminar a variável “a” porque ela aparecia simultaneamente no numerador e no denominador e que a professora tinha ensinado daquela maneira.
Custei a acreditar na informação e pedi para olhar os cadernos de vários alunos.
E, realmente, a professora tinha dito a eles que aquela operação matemática era possível [concluí isso a partir das correções dos exercícios feitas pela docente].
Passei o restante da aula tentando convencê-los de que a resposta estava errada e que, dali por diante, teríamos que rever aquele conteúdo.
Eles disseram que não acreditavam que eu estivesse correto, porque a professora que eu estava substituindo os acompanhava desde o 6º ano do Ensino Fundamental e ela não poderia ter lhes ensinado algo errado [Obs.: Mais tarde, descobri que a professora que eu estava substituindo era bióloga e que complementava a sua carga horária ministrando a disciplina de matemática].
Mesmo não sendo licenciado em matemática, voltei para casa pensando em como fazer para convencê-los de que eu estava falando a verdade. Como eu iria conquistar aqueles alunos, cujo laço afetivo que eles construíram com a professora anterior era muito forte? E, para completar, era a minha primeira experiência com um 8º ano. Eu era acostumado a trabalhar com alunos do 9º ano ou do Ensino Médio.
Fiz o seguinte: Em casa, reuni vários livros de matemática que abordavam aquele conteúdo, de vários anos (alguns muito antigos e outros publicados naquela época), e que tinham exercícios com respostas. No dia seguinte, eu dividi a turma em trios. Pedi que cada equipe escolhesse um dos livros e solucionasse os problemas que estavam indicados com uma seta. Pedi que resolvessem os exercícios da forma como haviam aprendido. Ao terminarem a tarefa, pedi que eles consultassem os gabaritos para saber se haviam acertado ou não.
Eles perceberam que haviam errado as respostas de todos os problemas.
Então, perguntei se agora eles acreditavam que tinham aprendido a fazer operações matemáticas incorretas e que eu falava a verdade. Os meus advogados foram os livros!
A partir daquele dia, eles passaram a confiar em mim e desenvolvemos um trabalho bastante interessante. Eles sempre estavam bastante receptivos às atividades que eu propunha. Fui até convidado para a formatura daquela turma no final do ano letivo seguinte, mesmo não lecionando mais naquela instituição de ensino.

Lembrei desse caso quando li que o erro do aluno é um conhecimento que ele construiu, de alguma forma. É tarefa do professor elaborar intervenções didáticas que façam o estudante questionar as suas próprias respostas e reconstruir esse conhecimento (CURY, 2008).
Segundo Cury (2008), os professores podem explorar a análise dos erros dos alunos como ferramentas para a aprendizagem, constituindo uma metodologia de ensino. O erro mostra ao professor como o aluno se apropriou de determinado conhecimento e quais as dificuldades que ele precisa superar para aprender.

REFERÊNCIA:
CURY, H. N. Análise de erros: o que podemos aprender com as respostas dos alunos. Belo Horizonte: Autêntica, 2008.


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