Boa
noite a todos!
Essa
postagem é a penúltima do módulo sobre aprendizagem da disciplina “Docência
Universitária e Integração de TIC”. Foi proposto que lêssemos um texto sobre
metacognição e pesquisássemos sobre o perfil do aluno universitário para,
depois, escrever reflexões sobre o papel do docente universitário como
mediador da construção do conhecimento
desse público.
Para
guiar essas reflexões, foram feitos alguns questionamentos, como:
·
Que alunos são
esses que chegam à universidade?
·
Como os docentes podem
ajudar esses alunos a compreender que o processo de aprendizagem é uma
responsabilidade compartilhada?
·
Que professor eu preciso
ser para atender esses alunos?
Em
minha pesquisa, os textos que li foram os de Ceroni, Carpigiani e Castanheira
(2011), Moraes et al. (2011), Ribeiro
(2013) e Ristoff (2014).
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REFERÊNCIAS
CERONI,
M. R.; CARPIGIANI, B.; CASTANHEIRA, A. M. P. Percepção de docentes sobre
comportamento de alunos universitários na gestão da sala de aula. Revista Primus Vitam: Revista de Ciências e
Humanidades, n. 3, jul./dez. 2011. 12 p.
MORAES,
C. A. S. et al. O estudante do ensino
superior: identificando categorias de análise. Vértices, Campos dos Goytacazes, v. 13, n. 3, p. 205-218, set./dez.
2011.
RIBEIRO, C. Metacognição: um apoio
ao processo de aprendizagem. Psicologia:
reflexão e crítica, v. 16, n. 1, p. 109-116. 2003.
RISTOFF,
D. O novo perfil do campus brasileiro: uma análise do perfil socioeconômico do
estudante de graduação. Avaliação,
Campinas, v. 19, n. 3, p. 723-747, nov. 2014.
TREVELIN,
A. T. C. Estilos de aprendizagem de Kolb: estratégias para a melhoria do ensino-aprendizagem.
Revista de Estilos de Aprendizagem,
v. 7, n. 7, abr. 2011. 13 p.
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METACOGNIÇÃO
Em
primeiro lugar, foi interessante ler sobre metacognição [já tinha ouvido esse
vocábulo outras vezes, mas nunca nem me informei a respeito] e saber que as estratégias
metacognitivas são elementos chave no processo de “aprender a aprender”, potencializando
a realização escolar.
Quando
é proposto a um sujeito que possui competências metacognitivas que execute uma
tarefa acadêmica, ele, conscientemente, é capaz de: (a) compreender a
finalidade da tarefa, (b) planejar a realização da tarefa, (c) empregar estratégias
que lhe permitam executar a tarefa e (d) avaliar o seu próprio desempenho nesse
processo. Trata-se de um sujeito que reconhece as dificuldades para realizar a
tarefa e, consequentemente, desenvolve meios de superá-las. Ele também controla
e gere os próprios processos cognitivos, tendo a noção da responsabilidade pelo
seu desempenho escolar (RIBEIRO, 2013).
Seria
interessante que todos os professores estimulassem os seus alunos a
desenvolverem competências metacognitivas.
O PERFIL DO UNIVERSITÁRIO BRASILEIRO
Antes
de refletir sobre o que os professores podem fazer para melhor mediar a construção
do conhecimento de seus alunos, é
primordial para os docentes que eles conheçam o perfil desses estudantes.
Principalmente
em algumas áreas do conhecimento, os docentes, em geral, não se preocupam em
conhecer o perfil de seus alunos. Nas primeiras aulas, eles se limitam a
perguntar o nome e talvez a idade dos estudantes, mas não procuram saber: (a)
se trabalham ou não, (b) se são oriundos de uma escola pública ou privada, (c) qual
a condição econômica de suas famílias e (d) se os alunos têm deficiências
escolares e quais são essas.
Segundo
Moraes et al. (2011), para que o
trabalho do docente seja mais efetivo, é necessário identificar o perfil de
seus alunos e as principais dificuldades que eles enfrentam no processo de
ensino-aprendizagem, além de compreender a realidade onde eles estão inseridos.
De
acordo com Ceroni, Carpigiani e Castanheira (2011), também é importante que o
professor conheça o perfil de seus alunos para não estipular metas impossíveis
de serem alcançadas por eles. Não é aceitável que o docente estabeleça o que os
alunos já deveriam saber.
O
professor precisa conhecer quem é o seu aluno para saber como motivá-lo e
envolvê-lo e conseguir que esse estudante se comprometa com o processo de
ensino-aprendizagem e tenha uma participação efetiva no mesmo (Ceroni; Carpigiani; Castanheira, 2011).
O
professor deve fazer um planejamento criativo e condizente com a realidade do
discente, com estratégias diferenciadas. A aula não deve ser “dada” pelo
professor, mas sim construída pelo professor e pelo aluno em uma ação conjunta
(Ceroni; Carpigiani; Castanheira, 2011).
Embora
existam muitos perfis de estudantes de graduação no Brasil, em geral, o
universitário brasileiro é: jovem, solteiro, mulher, trabalha formalmente e não
mora sozinho (MORAES et al., 2011).
O
turno matutino é frequentado por alunos que pertencem aos estratos médio e
superior da sociedade, enquanto que o noturno é frequentado, em sua grande
maioria, por discentes que exercem uma atividade remunerada e pertencem aos
estratos mais baixos (MORAES et al.,
2011).
Moraes
et al. (2011) constatou que os docentes
veem os estudantes do período noturno de maneira diferenciada, como se eles
tivessem deficiências escolares e pouco tempo para se dedicar aos estudos. Além
do mais, eles os julgam serem casados, possuírem filhos e terem ingressado
precocemente no mercado de trabalho.
Eu
fui aluno do período noturno porque a graduação que escolhi cursar era ofertada
somente à noite. E mais! Pelo fato de estudar à noite, estagiei e trabalhei nos
períodos matutino e vespertino. Mas eu teria de exercer uma atividade remunerada
no horário disponível que eu tivesse, independentemente do período no qual eu
estudasse.
Moraes
et al. (2001) foram muito felizes ao
defenderem que, embora seja uma dura realidade, não podemos nos esquecer de
que, muitas vezes, o trabalho confere a possibilidade de cursar uma graduação,
mesmo que a conciliação entre trabalho e estudo leve ao desgaste físico, à
alimentação precária e ao repouso insuficiente por parte do estudante.
De
acordo com Ceroni, Carpigiani e Castanheira (2011), 88,4 % dos candidatos a
vagas na Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM) entre o ano de 2008 e o
primeiro semestre de 2011 tinham idade igual ou inferior a 21 anos, mostrando
que os alunos escolhem as suas carreiras e enfrentam a vida acadêmica com uma
idade muito jovem.
Moraes
et al. (2011) relata que muitos
estudantes desconhecem a realidade do mercado de trabalho e acabam “escolhendo”
a carreira que irão construir por meio das experiências que tiveram nas
disciplinas do Ensino Médio, da forte influência de sua origem social e do grau
de escolaridade dos seus pais.
É
por essa razão que o professor entrevistado por Ana Teresa Colenci Trevelin e cujos
trechos dessa entrevista foram publicados, no ano de 2011, na Revista de
Estilos de Aprendizagem, no artigo intitulado “Estilos de aprendizagem de Kolb:
estratégias para a melhoria do ensino-aprendizagem”, diz que os alunos não têm
objetivo e não sabem o porquê de estarem ali, transparecendo que muitos
estudantes não se identificam com o curso que escolheram.
Então,
seria interessante que se conversasse mais com os adolescentes, principalmente
aqueles que estão cursando o Ensino Médio, sobre o mundo do trabalho e as
características de diversas carreiras profissionais. Será que esses discentes
não tiveram a oportunidade de fazer um teste vocacional uma vez na vida?
Os
docentes do Ensino Superior exigem que o aluno tenha autonomia na construção do
conhecimento, mas, muitas vezes, eles mesmos repassam os conteúdos curriculares
de forma fragmentada e desarticulada, o que não é significativo para a
realidade do aluno (Ceroni; Carpigiani;
Castanheira, 2011).
A
mera transmissão de informações não atende às demandas socioculturais
contemporâneas. É necessário que os docentes tenham um comprometimento com o
desenvolvimento da aprendizagem dos alunos, voltado também para questões
éticas, sociais, políticas, econômicas e culturais (Ceroni; Carpigiani; Castanheira, 2011).
Na
atualidade, a organização universitária tem como objetivo preparar
profissionais para o mercado de trabalho. Contudo, o sentimento geral dos
alunos universitários é o de que a formação que recebem é insuficiente para
atender às exigências desse mercado (MORAES et al., 2011).
De
acordo com Moraes et al. (2011), as habilidades que se deseja que o estudante
universitário tenha são: (a) raciocínio lógico, (b) raciocínio abstrato, (c)
julgamento crítico, (d) capacidade de compreender, (e) capacidade para resolver
problemas e (f) atitude de aprender a aprender.
Segundo
Ceroni, Carpigiani e Castanheira (2011), o universitário brasileiro sabe buscar
informações de forma ágil e tem a necessidade de estimulações sensoriais para
aprender, mas é intolerante ao ritmo lento necessário para a utilização dos
raciocínios lógico, abstrato, crítico e interpretativo.
É
comum encontrar estudantes despreparados para ingressar no Ensino Superior, ou
seja, que saíram do Ensino Médio sem construir uma série de conhecimentos
básicos exigidos pela universidade. Dessa forma, eles não têm condições de
avançar na graduação, em virtude da grande defasagem de aprendizado existente.
São alunos que não aprenderam a pensar (Ceroni;
Carpigiani; Castanheira, 2011).
Nesse
momento, a meu ver, chega-se ao seguinte dilema: “O estudante não tem o
conhecimento que lhe é exigido e o professor universitário entende que não é
sua obrigação preencher as lacunas da formação do aluno”. Mas, ora, o sistema
permitiu que ele ingressasse no Ensino Superior, mesmo sem ter esse
conhecimento. Como resolver esse impasse?
Não
é hora de buscar culpados por essa situação. Mas, vamos pensar um pouco: Quem
está em melhores condições de tentar solucionar esse problema, o aluno ou o
professor? O que pode fazer o aluno? Voltar à escola que o formou em busca de
ajuda? Tentar “correr atrás do prejuízo”? Mas em que espaço? Com a ajuda de
qual profissional? Ou ele deve fazer isso sozinho?
O
que pode fazer a universidade? Será que a instituição não tem subsídios para auxiliar
esse aluno? Ou ela não está interessada?
Na
minha opinião, os docentes precisam ser mais sensíveis a essas questões, assim
como a própria Instituição de Ensino
Superior (IES). Se existem defasagens na formação do aluno, o momento para
tentar saná-las é agora. Não podemos, como docentes, simplesmente “fechar os
olhos” e dizer que não é nossa responsabilidade.
A IMPORTÂNCIA DAS POLÍTICAS INCLUSIVAS
Com
base nas informações coletadas por meio do questionário socioeconômico do Exame Nacional de Desempenho do Estudante
(Enade), Ristoff (2014) analisou a influência de políticas globais de inclusão,
como o Programa Universidade para Todos
(Prouni), o Sistema de Seleção Unificada
(Sisu), o Fundo de Financiamento ao
Estudante do Ensino Superior (FIES) e a Lei das Cotas (Lei nº 12.711, de 29
de agosto de 2012), na alteração do perfil socioeconômico dos estudantes de
graduação brasileiros entre os anos de 1991 e 2012.
Nesse
período, foram registrados crescimentos no número de IES (de 171 %) e no número
de matrículas na Educação Superior (de 350 %), em grande parte, no setor
privado. Esse fato contrasta com o que ocorreu nos demais níveis de ensino, que
são abarcados, em grande parte, pelo setor público. Por exemplo, segundo dados
do Instituto Nacional de Estudos e
Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), 87 % das matrículas do
ensino médio pertencem ao setor público (RISTOFF, 2014).
Ristoff
(2014) observou que, nos cursos considerados de maior prestígio (a exemplo dos
cursos de Medicina, Medicina Veterinária, Odontologia e Direito), o percentual
de brancos é superior ao percentual de brancos na sociedade brasileira, mas que
essa diferença vem diminuindo ao longo das duas últimas décadas. Já em relação
aos cursos de Licenciatura e de baixa relação candidato/vaga, em geral, o
percentual de pretos é superior ao percentual de pretos na sociedade
brasileira. Por fim, o autor também constatou que o grupo dos pardos é
sub-representado em todos os cursos de graduação.
Em
relação à renda familiar do estudante de graduação brasileiro, embora o campus
brasileiro seja significativamente mais rico que a sociedade brasileira,
Ristoff (2014) constatou que houve uma queda no percentual de estudantes com
renda familiar mensal superior a 10 salários mínimos que ingressa na Educação
Superior nos cursos considerados de maior prestígio.
O
estudo também apontou que a grande maioria dos estudantes dos cursos
considerados de maior prestígio tem origem no ensino médio privado, enquanto
que são altos os percentuais de estudantes nos cursos de Licenciatura e de
baixa relação candidato/vaga que são oriundos do ensino médio público. No
entanto, as políticas de inclusão estão, aos poucos, alterando esse quadro (RISTOFF,
2014).
Investigando
a relação entre a escolaridade dos pais e os estudantes de graduação
brasileiros, Ristoff (2014) concluiu que ser filho de pais com escolaridade
superior deixou de ser requisito para o ingresso na Educação Superior,
demostrando que as políticas de inclusão foram responsáveis por trazer ao
campus estudantes que representam a primeira geração da família a cursar uma
graduação.
Ristoff
(2014) declara que a origem social e a situação econômica do estudante e de sua
família são fatores determinantes em sua trajetória na Educação Superior. Por
essa razão, as políticas públicas de inclusão são fundamentais para propiciar
que grupos historicamente excluídos ingressem nesse nível de ensino,
especialmente aqueles estudantes oriundos da escola pública. De acordo com
Moraes et al. (2011), 25 % dos
potenciais alunos universitários são tão carentes a ponto de não terem
condições de ingressar no Ensino Superior, mesmo que esse seja gratuito.
O
processo de democratização da universidade não deve se restringir apenas ao
acesso ao Ensino Superior gratuito, mas também deve ser pautado na adoção de
políticas de assistência estudantil, para que os estudantes carentes tenham a
oportunidade de permanecer após o ingresso e viver a vida universitária de forma
plena. Porém, enquanto persistirem as desigualdades nos Ensinos Infantil,
Fundamental e Médio, as tentativas de democratização do Ensino Superior serão
inócuas (MORAES et al., 2011).
Estudantes do passado x
estudantes atuais
Por
fim, identifiquei-me bastante com um questionamento que li em uma das
referências, que foi: “Que semelhanças e diferenças existem entre os atuais
estudantes e os do passado”? Tenho feito essa pergunta a mim mesmo, a outros
técnicos e aos docentes com os quais eu trabalho.
Quando
cursei a graduação em Química Industrial, a turma da qual eu fazia parte era
bastante heterogênea, e isso em vários aspectos, a exemplo da faixa etária e da
condição socioeconômica. Muitos dos meus colegas de turma exerciam atividade
remunerada e já eram técnicos em Química Industrial.
Atualmente,
já na condição de servidor da UFPE, percebo que a grande maioria das turmas é
composta por estudantes jovens, que não trabalham e que, muitas vezes, nunca
tiveram contato com um laboratório de Química. Um reflexo disso é que as aulas
práticas são mais demoradas do que costumavam ser no passado.
Também
chama a atenção a imensa dificuldade que os alunos têm com a linguagem escrita,
seja para ler e compreender as instruções de um procedimento ou para escrever
um relatório sobre os fenômenos que observaram. Eles pensam que ainda estão no
Ensino Médio e fazem pesquisas superficiais sobre os temas com os quais
trabalham. É realmente preocupante!
Penso
que, assim como ocorre em outras IES, a UFPE deveria obrigar os calouros a
cursarem disciplinas de Língua Portuguesa, especialmente aqueles que
ingressaram em cursos relacionados às Ciências Exatas e da Natureza e às
Engenharias e suas Tecnologias.
Ficou
extenso, mas é um tema pelo qual eu me interesso bastante.
Até
a próxima postagem!
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